Poema: Uma História da Luta de Antas

Poeta João Muniz

Vou narrar em toada e poesia
Uma história de luta e repressão
Mas também resistência e conquista
De uma luta suada neste chão
Uma história demais emocionante
De momentos vividos bem marcantes
Percorridos em sua trajetória
Onde o povo da luta não cansou
Demonstrou pela terra tanto amor
Grande Antas arquivo de memória.

Nesta terra é berço de João Pedro
Grande marte das Ligas Camponesas
Que outrora lutou por liberdade
Pelo homem a mulher e a natureza
Entendeu bem a vida do oprimido
Defender o tonou um perseguido
Da justiça humana injustiçado
Um celebre e honrado cidadão
Camponês lutador com emoção
Tem seu sangue ensopado no roçado.

Em 62 mês de abril
Dia 02 tem uma morte tirana
Sua esposa fiel Elizabeth
Sente a grande tortura desumana
E assume de João a ideologia
Ensinando sua pedagogia
Representa mulher ser de bravura
Vem á face perversa em seu destino
Se esconde num mundo clandestino
Torturada também na ditadura.

E a história de Antas continua
Foi as ligas ficando abafada
A cruel ditadura militar
Vitimou camponeses na emboscada
E o povo vivendo escravidão
Dava ordens um tal Sebastião
Figueiredo Coutinho. Um mercenário
Mão de ferro contra o trabalhador
Num regime covarde explorador
De um poder do latifundiário.

Obrigava os pais mães de famílias
Colocar seus filhos pra trabalhar
Suas vidas sofridas escravizadas
Não podia se quer vir estudar
Feito escravo explorado todo dia
Quase nada era o pouco que comia
Trabalhava na paga do cambão
Um dinheiro se quer ninguém ganhava
Era apenas um vale então ficava
Seu suor todo lá no barracão.

19 de novembro de 97
85 família iniciou
Uma luta em prol da liberdade
A razão pela qual se motivou
E uma guerra tremenda aconteceu
Muito medo constante sucedeu
Violência o período inicial
Repressão assassina e desespero
Interrompe a vida de um companheiro
Culminou com a morte de Sandoval.

Companheiros sofreu perseguição
Ameaças de morte e tiroteio
Com prisões numa luta tão sofrida
Emboscada carreira e devaneio
A polícia a serviço do patrão
Aumentando essa perseguição
Destruindo a lavoura já crescida
Capangas de cavalo e viatura
Interrompe no campo agricultura
Faz do povo a vida entristecida.

03 despejos de forma absurda
E o Pe. Zé Martins sempre presente
O promotor Marinho Mendes disse,
A polícia de Sapé é conivente
Junto ao povo fez sua intervenção
Diminui aquela perseguição
E opressão violenta que se via
Muitos dos companheiros desistiu
Pelo medo das balas de fuzil
E além disso a terra não saia.

CPT e a Igreja do passado
Que lutaram junto aos trabalhadores
Que em vez de um templo uma palhoça
E rezavam com os agricultores
E o profeta de Cristo D. José
Proclamava a vida e o dom da fé
Por um mundo mais justo e mais irmão
A igreja de Deus pobre oprimido
Reconhece a quem foi o esquecido
Com a Teologia da Libertação.

E a terra é desapropriada
Para o INCRA criar o assentamento
Proprietário recorre na justiça
E o povo retorna ao sofrimento
Perseguidos também pela igreja
Mas o povo não cansa a peleja
Outra vez se impunha a lutar
Pra se ter essa terra conquistada
O povo seguindo a jornada
Não podia pensar mais em parar.

Decidia os Ministros do Supremo
O futuro do povo e seu destino
Ministro Dias Tofely pede visto
Pra esperança do povo campesino
Favorável votou a maioria
Esta terra se encheu de alegria
Esta luta de fato é conquistada
Longos anos de dor e sofrimento
Esperando essa hora esse momento
16 anos e 3 meses em caminhada.

João Pedro morreu mas está vivo
Elizabeth seguiu o mesmo trilho
A família que foi dilacerada
E gerou o casal seus 11 filhos
E a luta de Antas nessa trilha
Conquistou esta terra 11 família
Tem das Ligas essa simbologia
Essa terra é pra o povo trabalhar
Produzir para se alimentar
E viver na mais plena alegria.

Foram eles e elas vencedores
João Vitor e Josefa gloria Deus
José Bias e Maria José
Josiano lembra a esposa que morreu
Alan e Cida e o José Soares
Respirando o perfume em novos aires
Nivaldir, Elizangela e Sebastião,
Marivânio e Lisânia que prazer
Manoel Paulo e Maria quer viver
Produzindo e colhendo neste chão.

Josilene outra mulher guerreira
E Maria José estudou no SERTA
Completando essas 11 famílias
Na conquista de novas descobertas
Outros nomes depois irão somar
Nesta luta e na terra vão morar
E sentir o prazer da liberdade
E o peito repleto de alegria
Pois aqui já é mais que utopia
Esse sonho virou realidade.

As famílias querem agradecer
Todo apoio de todos recebido
Comissão Pastora a CPT
Pelas lutas travadas é merecido
Agradece a Marlene, Agnaldo
Irmã Tony, Ednelza e Eduardo
Biu, Roberto, Pe. Hermínio e Pe. João
Grande Tânia, Verônica e Albertina
A Drª Iranice flor menina
Ajudaram na luta deste chão.

D. José, D. Marcelo e D. Tomás,
A CNBB Dom Xavier
Garibaldi, Luiz Couto e Paulo Maldo,
Júlio Cezar, Anastácio e sua fé,
Dias Tofely por sua intervenção
Luizinho na contribuição
E tantos outros aqui que não citei
Quem já foi ou quem é da CPT
A vocês queremos agradecer
A conquista é nossa e de vocês.

Pois herdamos das ligas camponesas
Uma luta fiel grande João Pedro
Somos filhos de sua resistência
Pois vencemos repressão á dor e medo
Temos grandes motivos pra sorrir
Nesta terra nós vamos produzir
E honrar esta família verdadeira
A mulher que deu vida ao movimento
Dará nome ao nosso assentamento
Que será Elizabeth Teixeira.

Viva o povo guerreiro desta terra
Viva as lutas e as ligas camponesas
Viva os mártires tantos João e Elizabeth Gloria a Deus e a divina natureza
Esta luta deve continuar
Venham povo em marcha pra lutar
E cantar novo hino varonil
E quem sabe no novo amanhecer
Em todo canto virá acontecer
Justa reforma agraria no Brasil.

Poeta João Muniz
01/04/2014.

2 comentários em “Poema: Uma História da Luta de Antas”

  1. Boa tarde! Sou sobrinha da irmã Tony que é citada neste poema, ela dedicou sua vida à essa luta. Em outubro, ela completará 60 anos de missão, estamos organizando uma festa em sua homenagem. Fiquei muito feliz em encontrar várias fotos dela em militância. Um abraço!

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