Entrevista com o Presidente do Memorial das Ligas Camponesas, Luiz Damázio de Lima

Luiz Damázio, presidente da Ong Memorial da Ligas Camponesas
Luiz Damázio, presidente da Ong Memorial da Ligas Camponesas

Essa entrevista foi solicitada pela Revista ADITAL – Agência de Informações Tito de Alencar Lima – Fortaleza-CE. Sob alegativa de entrevista muito longa e não dispor de pessoal para transcrever da forma oral para a forma impressa, aquele periódico não a publicou. Contamos então com a colaboração do MCP – Movimento das Comunidades Populares – que possibilitou a divulgação dessa entrevista.

São declarações de um tradicional agricultor, líder camponês, lutador, Presidente de uma das mais importantes instituições referência da luta do homem e da mulher do campo – Memorial das Ligas Camponesas – LUIZ DAMÁZIO DE LIMA, LUIZINHO, tem uma visão clara da situação fundiária do Brasil e do lugar que o homem do campo desempenha nela.

ENTREVISTA

Estamos no dia 22 de março de 2013, sexta-feira, em companhia do presidente do Memorial das Ligas Camponesas, Sapé, Paraíba, LUIZ DAMÁZIO DE LIMA, conhecido no seu ambiente e em todos os meios, como LUIZINHO.

 

Alder Júlio/João Fragoso – Luizinho, como surgiu a ideia de criar um Memorial que preserve e torne público a luta camponesa?

Luizinho – O Memorial surgiu a partir dos anos 2006, porque depois da morte de João Pedro veio o regime da ditadura militar e aí se calou, ninguém mais falou, mas ficou o histórico da luta, o espírito, ficou queimando por baixo, como disse o próprio João Pedro, como fogo de monturo e ai renasceu aqui no o Estado da Paraíba, a partir dos anos 70-75, aqui em Mucatu, a luta de uma outra forma, mas com o mesmo objetivo organizativo dos trabalhadores em conquistar a terra. E aí surgiu, foram criados aí, em 75 nos anos 80, grandes acampamentos e assentamentos no estado da Paraíba, com uma resistência muito forte por parte dos agricultores e também um processo organizativo bem organizado, que fizeram com eles, após a ditadura militar, conseguir enfrentar, trazer a tona, trazer na pauta do estado e do país a pauta da reforma agrária, colocar a Reforma Agrária em pauta. Isso sabemos que é o espírito de João Pedro que no momento certo ele surgiu e surgiu com grande força.  E chegando, já mais pra cá nos anos 90, 96, que eu também já comecei a me desenvolver nesse processo, aqui no município de Sapé, aí surgiu uma ideia da CPT, da irmã Antônia com a irmã Marlene, de resgatar a história de João Pedro Teixeira, nada melhor que atualizar a sua história uma vez já está coberta, ninguém falava na história de João Pedro Teixeira, veio à tona inclusive o conhecimento da história dele na região, no estado, a nível nacional e também internacional. Aí houve um grande interesse da irmã Antônia de buscar as histórias, procurar aquelas pessoas que participaram das lutas, com certeza tinha muita vontade de falar, de expor como foram as lutas, ela chegou a conhecer e convidar várias pessoas e essas pessoas fizeram as entrevistas e ela fez mais de um livro e conquistou. Chegou o momento também de criar o Memorial das Ligas Camponesas pra resgatar a história, tanto no estado da Paraíba, quanto nacional e até internacionalmente que temos alguns acervos das Ligas Camponesas. A ideia é trazer tudo isso que tem para o Memorial, lá em Barra de Antas. Depois disso, foi a primeira fase depois das entrevistas com esse pessoal, foi formado um livro, depois se formou o Memorial com uma diretoria em 2006, que fiz parte no início, como fiscal. O primeiro presidente da diretoria foi o companheiro Eduardo de Barra de Antas. Essa diretoria tem um mandato por três anos.  Os primeiros três anos foi uma dificuldade muito grande, não houve permanentemente as reuniões, ficou um pouco na verdade solto. A irmã Antônia teve que viajar para a Holanda, o país dela, aí ficou a irmã Marlene, junto com a CPT, junto com a gente. Mas por ter muita coisa envolvido com a luta que iniciou-se, depois da ida de João, a gente também deixou parado um pouco. Eu acredito que 2006 a gente passou mais de três anos parado, não teve tanta visibilidade, tanto trabalho. Então, no final de 2009, numa reunião foi proposto pra que a gente reativasse a coordenação e desse continuidade à luta, pois a gente não podia deixar morrer essa história. Um dos objetivos a partir dessa retomada era buscar a desapropriação da casa onde morou João Pedro Teixeira e Elisabete. Nós conseguimos isso, eu fui convidado a ser presidente do Memorial, nesse reinício, eu sei que em 10 de janeiro de 2010, nós fizemos a assembleia lá, na Câmara Municipal de Sapé, e foi eleita uma nova diretoria da qual eu era presidente, fui presidente na época, e a partir dali a gente já deixou a primeira reunião marcada pra dá continuidade aos trabalhos, que foi no dia 30 de janeiro de 2010. E assim nós continuamos. Todos os meses a gente está tendo reunião e o trabalho ele começou a se expandir, a se organizar junto com outras pessoas, com outras parcerias, com outras entidades. E nós conseguimos o Cinquentenário que todo ano se fazia as comemorações, na morte de João Pedro, no dia 02 de Abril e tivemos a grande honra e o prazer de celebrar o cinquentenário o ano passado, já com a desapropriação da casa com os 7 hectares. Isso foi um ganho e aí a gente veio conseguir esse espaço e a gente está lutando agora pra implementar um novo projeto naquele local, que não está sendo fácil. A gente já tem várias propostas, estamos botando lá uma unidade demonstrativa.  A proposta também que seja uma EFA, a Escola Família Agrícola. Está se discutindo isso e o Memorial é das Ligas e das Lutas de hoje, ou seja, depois das Ligas. E a gente tem tido assim um grande  privilégio por ter trazido esta história, tentado resgatar e trazer essa história pra quem não conheceu, como eu por exemplo, eu nasci e me criei na terra onde morou João Pedro Teixeira, eu não nasci praticamente, mas nasci há 10 km, praticamente na terra e cheguei pra lá há 5 anos e tive a minha infância todinha naquela terra. Saí depois pra ocupar a terra em um acampamento e depois voltei pra ser presidente do Memorial. É uma história e tanto que eu nunca pensava na minha vida de ter ocorrido ali. Eu vim saber anos depois e inclusive depois que acampei. Conquistei também a terra e depois foi que vim saber que tinha morado ali João Pedro Teixeira e passei a ser o presidente e dá continuidade a esse trabalho. Isso foi e está sendo uma honra dá continuidade a ela, essa luta.

 

Alder Júlio/João Fragoso – Essa entrevista com o presidente do Memorial das Ligas Camponesas, Luizinho, é uma solicitação da revista ADITAL – Agência de Informações Tito de Alencar Lima. Luizinho, tendo uma referência como líder João Pedro Teixeira, qual o valor de um espaço como o Memorial das Ligas Camponesas?

O valor é imenso, a gente não sabe dimensionar. Porque uma luta. Qual era o instinto de João Pedro? Qual era o desejo de João Pedro? Era realmente fazer com que os agricultores conquistassem as terras pra que viesse ter sua produção, ter sua liberdade, ter sua autonomia.  E isso infelizmente João Pedro não teve condições de ver, viu, mas com certeza ele está vendo em espírito e nos dando a força, a gente ter trazido isso à tona. Antes do resgate das lutas do Memorial, renasceu inclusive como eu já falei, lá nos anos 70-75. Aí o exemplo, pra dá uma contextualização pra sociedade no que isso também é as Ligas, só de uma forma mostrada e vista totalmente diferente, mas isso são as Ligas Camponesas. Aí nós trouxemos a tona essa história, resgatamos, o Memorial está aí, é um valor imenso. O que tem de alunos, que tem de pessoas que querem conhecer e a comunidade vizinha, por exemplo, está tendo o privilégio de conhecer, porque fica no berço da família dela, da Elizabete Teixeira, é a Elizabete que tem uma luta histórica, depois da morte de João, ela deu continuidade aos trabalhos e aí nós já batizamos como uma mulher marcada pra viver. O João foi um cara marcado pra morrer e a esposa, a mulher marcada pra viver, porque deu continuidade a sua história. Ainda hoje está aí celebrando a vida, a memória. Segundo ela, a Reforma Agrária ainda não foi feita no Brasil, ainda tem algo que se possa fazer, e um deles é a construção, ou o nascimento desse Memorial que lá a gente vamos tentar aprofundar o estudo pra os assentados da reforma agrária que já existe, no vizinho, ou no estado da PB e trazer o que nasceu depois, as lutas. Foram lutas bastante brilhantes e bonitas, que precisa preservar essa história e dentro disso buscar um método de formar a criançada, os jovens que estão chegando agora pra permanecer na agricultura familiar, ou seja, no campo aí num contexto agroecológico que tem vida, pra que essa vida ela possa está sendo reinando. É difícil mencionar o valor desse Memorial que está sendo construído lá em Barra de Andes.

 

Alder Júlio/João Fragoso – Presidente, o Memorial das Ligas Camponesas muda uma parte da história agrária no Brasil, marcada por violência, morte, mas também pela resistência e luta. Passados tantos anos e a violência no campo ainda é uma realidade. Como vê essa questão?

Luizinho – Acho que o conflito agrário no país começou com João Pedro Teixeira e aí a força do capital muito mais forte naquela época, a ditadura militar, não se deu ao luxo de que o João Pedro visse ser construído aquilo que era o seu sonho. Mas a realidade ela não morreu. O sangue de João Pedro derramado, é como se fosse uma semente que germinou anos depois e aí começou a brotar frutos e frutos que têm grande objetivos pro estado da Paraíba e pro Brasil hoje. A gente sabe que a Reforma Agrária no país desde João Pedro, já começa com violência, que, por exemplo, foi ele assassinado brutalmente, e ela ao renascer nos anos 70-76 começa com o mesmo perfil. Porque isso está ligado ao capital, a grande elite nunca vai deixar de ser violenta, ela sempre vai lutar pelos seus interesses. Agora, é claro, que a resistência dos agricultores ela é muito mais, é imbatível podemos dizer. Nós tivemos todo esse processo organizativo, foi muito sangue, muito suor derramado, mas hoje, a partir dos anos 70-75 pra cá nós temos em torno de quase 300 áreas de assentamentos no estado da Paraíba. Então isso leva a quase 20 mil famílias assentadas. Então tem muita coisa e a resistência desses agricultores pra conquistar essas terras e agora a resistência pra continuar na terra.  Porque o capital continua ainda com a violência no campo, a gente sabe que ela ameniza, depende muito dos conflitos, porque quando há mais conflito há mais violência, como há uma amenização a partir desses 10 anos, a partir do governo Lula pra cá, houve  um número de redução de acampamento, quando há um número de recuo das ocupações, há também  um número dos assassinatos, da criminalidade, da violência no campo, mas não deixa de não ter; está sempre ocorrendo, está sempre ocorrendo morte, está sempre ocorrendo agressão junto os agricultores. E esse sistema que é perverso, o sistema capitalista, a gente precisa está sempre atuando. A gente tem que está a cada dia mais organizado, atento. Porque quando ele não atua de uma forma, atua de outro. Agora ele não está atuando na base da pressão, na base da violência. Mas ele está atuando na base de um projeto estrutural que se diz ser desenvolvimento no país que vem de determinados pontos e ações destruir o que já está sendo feito, o que já foi feito, inclusive pelo governo federal. Que são muitas áreas de assentamento e agora vem o poder do capital com sua grande estrutura construir fábricas de mineração de cimento, por exemplo; grandes canais que a gente sabe muitas vezes que não resolve o problema e que só vai beneficiar mais uma vez a elite. Os agricultores precisam está mais organizados uma vez que se organizou pra conquistar a terra, precisa está organizado pra dá continuidade à luta pela terra. Porque o sistema do capital ele é forte, ele é perverso e ele nunca vai se render contra nós pequenos, podemos dizer assim. Mas é preciso que a gente resista. Porque o que se tem de Reforma Agrária hoje foi porque houve uma resistência dos agricultores que acamparam, que ocuparam, que resistiram á violência, que enfrentaram a capangagem e hoje está de uma forma diferenciada. Nós precisamos está atento a essas questões pra dá continuidade a isso. Pra isso a gente precisa de formação. O nosso povo na época não teve uma formação.  E nós não vamos dá continuidade ao desenvolvimento, como se diz tanto no país, se a gente não tiver educação, por exemplo, formação. Isso é um dos pontos e aí está o que há de formação tem que haver um incentivo pra aqueles agricultores lá ir se adaptando, sempre conseguindo. Os agricultores que já estão numa idade avançada é mais difícil, mas a classe jovem, ela tem que começar a se adaptar. Por isso a ideia do Memorial é buscar um quadro de formação lá dentro e a Escola Família Agrícola é dos ideais para que a gente venha está formando aí os filhos dos agricultores nessa metodologia da agroecologia pra gente ter um sonho com a qualidade no campo bem melhor do que hoje.

 

Alder Júlio/João Fragoso – Luizinho, as Ligas Camponesas nasceram tendo como base principal a dignidade do homem e da mulher no campo e a Reforma Agrária. O que mudou nesse cenário nos últimos anos? Qual a sua opinião sobre a Reforma Agrária no Brasil?

Luizinho – Eu acho que na Reforma Agrária, o principal é a dignidade do homem e da mulher, claro isso foi à ideia de João Pedro no primeiro momento, depois pensar na memória dele, na família e na sua classe, e na resistência, o reconhecer dessa dignidade de buscar aquilo que já é valor, que já é de direito, mas que foram negados o tempo todo, e aí o João Pedro ele reconhece isso no início dessa organização. Porque dignidade tem que ser pra todo mundo. Uma vez sendo negado é precisa lutar pra conquistar aquilo que já é lei. Aquilo que já é uma conquista; infelizmente no Brasil é assim. Isso avançou a partir desse conhecimento dos agricultores e a resistência a isso pra que pudessem dar continuidade as suas lutas e as suas vidas. Elas foram tiradas. Os agricultores não tinham direito de determinadas ações, por exemplo, de ter uma terra que pudesse plantar batata, que pudesse plantar macaxeira, que pudesse criar galinha, que pudesse criar o porco. Era limitado, era submisso aos proprietários e o que ele tinha de direito lá era o quintal que na verdade era arrodeado da cana de açúcar e de outras monoculturas. Então, isso é importante que a gente tome essa consciência e que busque principalmente de está se organizando pra quê o que já foi conquistado até hoje não passe a voltar a ser o que era antes, por exemplo. As áreas de assentamento foram conquistadas as terras de hoje, precisa se manter o processo organizado com o contexto da formação pra que essas famílias venham realmente plantar e produzir e se manter no campo, pra garantir aí a alimentação do povo brasileiro. Porque quem garante hoje a alimentação do povo brasileiro, é a agricultura familiar, é o pequeno produtor, que é 70% do que se consome está vindo dessa produção, desse povo. É importante que a gente continue. O incentivo do governo que tem se dado, que tem se buscado também por uma batalha de luta, isso pode também no mundo alternado se a gente não agir com a produção, com a organização, a gente pode voltar a ser banido, a ser queimado pela própria sociedade, pelo próprio governo. Então, nós precisamos está organizado, precisamos buscar formação pra aqueles agricultores que ainda não tem pra que ele venha dá a continuidade na luta e na sua propriedade a produzir pra alimentar a nossa nação. Então isso é um compromisso que cada um tem que ter pra que a gente vá vencendo esses obstáculos e está se organizando com a força do capital que está vindo aí muito forte.

 

Alder Júlio/João Fragoso – Luizinho: Há muitos assentamentos em redor de Barra de Antas, também há algum acampamento ainda,  que lutas têm sido travadas no sentido de transformar o que é acampamento em assentamento?

Luizinho – A luta que há no município de Sapé, vizinho a Barra de Antas, a fazenda Antas, sou nascido e criado lá, meus pais, meus avós, tudo nasceram e se criaram lá e morreram também lá, é que já faz 15 nos, eu tenho uma filha com 15 anos que nasceu no dia do acampamento da fazenda Antas e até hoje já foi desapropriada, está sob júdice, na justiça os ministros que pegam os projetos pra rever aí é anos e mais anos e até hoje não foi dado um parecer final. Que interesse faz você ter um Memorial em Barra de Antas, ali vizinho, e aquela área não ser desapropriada? E aquela área não vir pras mãos dos agricultores? É um dos sonhos do Memorial fazer com quê aquela terra ela volte pras mãos dos agricultores, até porque foi ali o berço das Ligas, foi ali onde nasceu e morou e viveu, parte da sua vida, João Pedro e Elizabete. Um dos pontos ideais é isso. A CPT está fazendo os trabalhos junto ao ministro. O governo do estado, vai fazer um ano agora, no dia 2 de Abril, no Cinquentenário, foi entregue toda a documentação pro governo do estado da Paraíba. Segundo ele ia ver como articular alguma coisa lá junto com o ministro. Parece que até hoje nada foi feito. A gente está tentando marcar uma audiência lá em Brasília pra conversar com os ministros e tem ideia também de levar alguém da Paraíba, seja alguém do governo da Paraíba, o próprio governo, pra tentar ajudar nesse encaminhamento pra ver se a gente consegue. Um outro ponto, que também não há interesse de ter um Memorial lá em Barra de Antas, se não der uma atenção especial à comunidade de Barra de Antas. Nós também estamos trabalhando a comunidade Barra de Antas com visitas, trazendo o pessoal já pra reunião, pra gente ir implementando essas questões e também estamos vendo um pouco da realidade social daquela comunidade. O ano passado deu uma grande enchente, foram várias famílias sem casas. Nós estamos buscando junto ao governo do estado, via Memorial e Associação a possibilidade de construção de 60 casas. Estamos tentando desapropriar uma área vizinha a área do Memorial, pra vê se há uma solução pra construção dessas casas. Não é tão fácil, porque todo mundo que está na coordenação do Memorial têm seus afazeres. Mas ai nós temos uma reunião a cada mês, duas no máximo, estamos tentando encaminhar passo a passo. E também vendo a possibilidade de buscar o resgate da cultura daquela comunidade, a história da panela de barro, artesanato, a questão da culinária, pra também formar e ajudar. Até porque está vindo muita visita pra o Memorial e esse pessoal pode está auxiliando na alimentação, está vendendo, comercializando os seus produtos.  A gente está tentando buscar o que for de melhor pra aquela comunidade. É uma das comunidades mais carentes do município de Sapé.  Estamos agora marcando um diálogo com o gestor daquele município pra que a gente implemente também as condições de vida junto ao município. Tem também a história da ponte que a gente cobrou isso desde o início da discussão desse Memorial junto ao governo do estado e estamos tentando fortalecer isso. Eles têm dito que não há condição de fazer, mas a gente está indo buscar o diálogo e as condições com outras entidades pra ver a possibilidade de melhorar a comunidade em si, buscar a decisão final da área lá e tentar estruturar a casa e o espaço que está lá…………….. pra vir trazer aí esse êxito de formação pros agricultores e agricultoras.

 

Alder Júlio/João Fragoso: Luizinho, a própria fundação do Memorial enfrentou vários tramites burocráticos de reconhecimento da luta. Que dificuldades enfrentaram para chegar até aqui?

Luizinho: Primeiro a gente sabe que todas essas terras estão nas mãos do latifúndio. E desapropriar uma área daquela tem algumas facilidades. Primeiro, foi uma área que está lá a casa de João Pedro Teixeira, que há inclusive interesse de qualquer que seja o governo, há um interesse de que o governo tem interesse de desapropriar uma área daquela porque é um quadro histórico, é de uma luta tremenda que tem peso no estado e no Brasil, as Ligas Camponesas e aí tivemos também a sorte de ter um companheiro como o Ricardo Coutinho no governo do estado na época que teve aí por cima todo o seu interesse de fazer o processo de desapropriação da área. Mas enfrentamos algumas dificuldades com dois proprietários, um entrou com ação na justiça e conseguiu do outros, mas esse tramite está na justiça, mas a gente conseguiu ver algumas debilidades junto inclusive pelo próprio governo, fazer o tramite de negociação e conseguimos fazer a desapropriação, inclusive a posse, já foi dada. Aí tem a doutora Iranice, que é assessora jurídica do Memorial que trata também dessa parte e nos ajuda. Mas não deixa de não ser uma dificuldade até pelo temor do capital, do latifúndio. Inclusive um dos proprietários que está junto hoje é envolvido inclusive com a luta de Antas. Morreu um trabalhador, o companheiro Sandoval, lá no acampamento de Antas e o assassino era trabalhador desse proprietário, tem todas essas questões que teme a gente. Mas, a gente graças a Deus conseguimos isso. O governo tentou fazer a viabilidade junto ao setor jurídico do governo, ao proprietário e conseguiu aí fazer essa desapropriação com essa emissão de posse. Eles estão brigando ainda, mas segundo a advogada é por questão de valor da propriedade, mas acredito que o quadro vai continuar e a gente vai manter isso. Mas não deixa de ser uma dificuldade. Inclusive está buscando a estrutura que realmente precisa para instalar o Memorial da forma que a gente está pensando, que a gente está discutindo. A EPA, por exemplo, é uma estrutura imensa. A gente está discutindo com o governo seja estadual, municipal ou federal, pra conseguir essa estrutura, ou através de projeto. São coisas que não vai deixar em um momento ou outro ter aí seus empecilhos, seus tramites pra atrasar o processo. Uma vez que nós temos um   processo burocrático no Brasil muito grande, se sabe, mas aí a gente vai tentando aos poucos conseguir isso.

 

Alder Júlio/João Fragoso: Como as pessoas de fora, dos outros estados e até do exterior, podem ter um acompanhamento desses passos que o Memorial vem dando?

Luizinho: Uma vez fundado o Memorial, é claro que tem que toda a sua estrutura e uma delas é a questão da comunicação, é preciso está ligado. Tem que ter site e todos os tramites de comunicação hoje nas redes sociais é preciso. E a gente tem inclusive enfrentado problemas com isso, por falta de algumas pessoas preparadas, podemos dizer assim, não só preparadas, mas também que tenham tempo suficiente pra está dando atenção a essas questões. E aí vai em cima e vai em baixo, já tentamos. O companheiro João Fragoso deu uma ajudada nisso, o companheiro também o professor Alder Júlio tem tentado ajudar nisso, e a gente tem tentando sair disso. O site já está criado e aí o pessoal já tem acesso e o próprio João Fragoso pode estar contando isso, porque ele faz parte desse tramite aí. Essa é a ideia. De lançar isso, tudo que sair, tira uma comissão de pessoas pra está analisando, tem a historio do blog pra está alimentando ai esse site e as pessoas estão tendo aí as informações. E outra coisa é está marcando visita. Já tem um grupo de pessoas que voltaram que estão formando os jovens da comunidade de Barra de Antas pra essa implementação do trabalho, que é fundamental, trazer essas pessoas pra cá pra forma-los, capacitá-los e elas dá continuidade. Já vieram os computadores e o pessoal está sendo formado. E segundo o pessoal já está bem adiantado. Amanhã ou depois eles é que vão está dando continuidade a isso, pra não está ligando pra o Luizinho, que é o presidente que está lá não sei aonde, 20, 30 km. Tem um menino lá que faz um trabalho excelente, mas que essas pessoas comuniquem diretamente com a casa, com o Memorial e façam o tramite, as suas negociações de visita. Do que precisar de alimentação, de dormida, de como vai passar lá. A ideia é que daqui a alguns meses, até o final do ano a gente vai está concluindo isso, e isso venha está sendo feito na própria casa, no próprio Memorial, pras pessoas está indo lá visitar sem nenhum problema.

Obs: O site do Memorial é: www.ligascamponesas.org.br/

E-mail: memorial.ligascamponesas@gmail.com

 

Alder Júlio/João Fragoso: Luizinho, tanto a Comissão Pastoral da Terra, quanto o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – MST, entre outras organizações, seguem em frente para cobrar justiça no campo. Que importância têm essas forças?

Luizinho: A importância é fundamental. Eu acho que esses movimentos foram eles que deram oportunidade às Ligas Camponesas. O nome de Liga saiu e entrou a Comissão Pastoral da Terra, uma pequena comissão que tem uma adesão a nível estadual, a nível nacional de está buscando isso de uma forma totalmente diferente, uma metodologia diferente, principalmente a CPT que trabalha em termos de evangelização com a palavra de Deus alimentando, isso é fundamental. Nós temos o MST, tem um pouco mais de radicalização, podemos dizer assim, e ainda mais tem feito seu papel no estado da Paraíba e também neste país a fora. As Ligas Camponesas ela transformou-se nesses movimentos sociais e deu continuidade as suas lutas. É preciso sim está se negociando, está se buscando, fazendo com que essa justiça venha a ser feita, principalmente aos assassinatos que já houve, às famílias. Tem muitos casos que estão impunes, que o poder do capital cobre e é muito difícil à gente descobrir essa coisa, a gente sabe disso. Mas eu acho que nesse momento, os movimentos sociais nesse país, na minha visão, na minha concepção, estão em crise, está em baixa, porque tudo tem as suas altas e as suas baixas. Nesse momento está em baixa. A gente saiu do governo Lula de oito anos e não foi cem por cento, mas esse governo levou muitas pessoas, muitas lideranças dos movimentos sociais e pensando muita vezes que essas pessoas iam tentar resolver o problema, não resolveu. Porque a máquina do poder administrativo desse país ela é muito forte e não é qualquer um que vai desmanchar. O capital fala muito mais alto, e aí a gente acabou perdendo as grandes lideranças que tínhamos. Uma liderança sabemos que não se forma de um dia pra noite, nem de um ano pra outro e nós temos agora, na minha visão, perdas nesse momento de organização no campo junto aos movimentos sociais. Um de outros fatores que foi a história com a mudança desse governo, surgiu ou deu a entender ao mundo que o país mudou a sua qualidade de vida, a questão social melhorou. E aí o mundo, outros países que tinham um vínculo com a questão do Brasil, deixou de mandar os projetos, os recursos e muitas vezes os movimentos sociais trabalharam e tinham muita força sobre isso, com recursos pra fazer o seu processo estratégico de trabalho, manutenções essa coisa. Isso enfraqueceu também. E tem outros questionamentos. Os agricultores com a mudança na qualidade de vida do país, a estrutura da política, a mudança da política implantada a partir do governo Lula, isso foi mudando. Até porque se tinha uma grande expectativa no governo Lula de que a partir do momento da chegada do governo Lula no país, a Reforma Agrária ia ser feita, ia haver um contexto de mudança geral. Nós não tivemos um contexto de mudança geral, as mudanças foram se ocorrendo passo a passo, lentamente, mas agradando também os dois setores. O governo não fez um processo de ruptura. O governo trabalha com os dois setores, trabalha com o agro negócio, atende o grande e atende o pequeno. É claro que cresceu. No início do governo Lula nós tínhamos um recurso pra agricultura familiar de 2,4 milhões de reais. Hoje nós temos em torno de 18 bilhões de reais. Dez anos depois do governo Lula com a companheira Dilma, mas surgiu muita coisa nova. Isso muitos agricultores, favoreceu, melhorou a classe pobre, a classe miserável.  Segundo as informações da presidente nós temos aí menos de 3 a 5 milhões de miseráveis ainda, que de repentemente pode deixar de ser miserável, porque tem uma série de programas. Mas isso não é o suficiente pra que a gente possa parar. É agora que começa o trabalho contra a miséria para que essas pessoas venham a ter qualidade de vida e sai ai do seu lugar de miserável lá em baixo e passe a ter no mínimo suas alimentações, seu direito de vida digna, como cobrava João Pedro Teixeira, pra o homem e pra mulher, tanto do campo como da cidade. Isso a gente sente em determinado momento, na hora de ir buscar as forças, que as forças elas estão fracas. Há 8, 10 anos trás, por exemplo, a gente chegava numa área de assentamento com um ônibus e não cabia as pessoas. Ia gente pendurado pras mobilizações, pras ações, etc. Hoje você chega e não consegue isso. Porque tem uma série de fatores. E um desses fatores porque as pessoas também se acomodam. Há um processo de vida que a gente sabe que num país como esse só há evolução, só há organização de mudança a partir da necessidade e uma das necessidades é a fome, o desemprego, a falta de salário, de melhoria, qualidade de vida e isso nós não tem cem por cento. Mas a partir desses dez anos o governo mudou muito. Nós sempre temos essa consciência. Mudou isso e aí se a gente tivesse com todas as lideranças do movimento aí implementando, atuando no seu campo, talvez a gente tivesse com mais ganho nesse poder político, com mais ganho nesse governo. Como perdemos essas grandes lideranças que elas foram pra ajudar na administração dos governos, isso tanto a federal como nos estados, não houve a possibilidade de mudança através deles, nas secretarias, onde é que seja no estado, e também perdemos a força no campo, no contexto de organização. Então, nós não vamos formar uma liderança qualquer. O que aconteceu também nesse processo é a mudança e a consciência de luta dos agricultores de está buscando ou deixando de plantar um sistema convencional a sua produção. Hoje há um contexto. Nós tivemos agora, terça-feira, dia 19, o dia estadual contra os agrotóxicos no estado da Paraíba.  Segundo os dados nós tivemos um acréscimo de 30% dos orgânicos no estado. Eu acho que há 10 anos a gente tinha talvez 5% de produtores orgânicos no estado da Paraíba e hoje a gente tem um número aí acima de 30. Isso tem viabilizado o contexto da visão da sociedade da Reforma Agrária no estado da PB. Em 2001, por exemplo, nós tínhamos no máximo 3, 4 feiras agro ecológica e num sistema organizativo dos agricultores que eles produziam e comercializavam. Hoje nós temos acima de 40. Então cresceu muito nesses últimos 12 anos, cresceu muito esse processo organizativo dos agricultores, está produzindo num contexto agro ecológico, produzindo e comercializando os seus produtos na feiras e qualquer forma que ele possa imaginar. Isso dá mais autonomia, isso dá mais credibilidade, liberdade para o setor dos agricultores e chama também à responsabilidade de está produzindo pra alimentar a nação.

 

Alder Júlio/João Fragoso: Bem, pra encerrar essa entrevista Luizinho, a pergunta é a seguinte: Qual o grande legado deixado por João Pedro Teixeira?

Luizinho: É esse espírito de luta.  O espírito de luta de João Pedro tem atraído muita gente, principalmente agora muitas pessoas novas, a partir do conhecimento desse resgate. Dá pra gente ver muitos jovens tentando conhecer, fazendo trabalho de academia, defesa, a própria família, já tem neta envolvida, Elizabete Teixeira ainda tem um espírito de guerreira, que está uma vez ou outra indo dá sua entrevista nos trabalhos. Então, o exemplo de vida de João Pedro é um dos maiores legados que nós temos na história da agricultura familiar. Isso tem trazido muitos agricultores a dá continuidade e servir de força, espírito. E agora o resgate de ter trazido, descoberto a luta naquela região, pra fazer resgatar essa história e a fundações do Memorial que a gente acredita que vai contribuir com esses agricultores no seu contexto de formação para o melhoramento dessa produção da agricultura familiar, nesse contexto da agro ecologia.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *