Intelectuais e Movimentos Sociais: a atuação de Francisco Julião junto às Ligas Camponesas

 TCC de Célio Diego Boni do município de Bela Vista Paraná. Diego graduou em Pedagogia na Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP, em Cornélio Procópio-PS. O trabalho foi escrito juntamente com Elisangela Francisca da Silva.

Resumo:

O estudo sobre personagens históricos nos leva a entender alguns processos, inclusive os educativos, dentro e fora das escolas, assim iremos apresentar o advogado, intelectual e ativista, dos direitos dos trabalhadores rurais das ligas camponesas criadas em Pernambuco entre as décadas de 1950 e 1960, Francisco Julião, com foco em situa-lo como um educador social, a partir de suas ações, agindo de maneira didática junto ao campesinato, buscando informar e causar uma formação política, lutando pela diminuição da exploração dos camponeses que
sofriam no período de total declínio dos engenhos de açúcar. A discussão realizada traz o movimento social rural, como um instrumento de mudança, partindo de pequenas reivindicações, como o enterro digno de seus mortos, até a tão sonhada reforma agrária, divulgada de forma incisiva na frase “Reforma agrária na lei ou na marra”, ditas várias e várias vezes por Julião, em seus discursos, mesmo no Congresso Nacional. A partir destas discussões, apresentar um de seus escritos mais divulgados, a sua carta-testamento escrita no cárcere, “Até Quarta, Isabela!” onde ele poetiza sua biografia, buscando retirar todo o rancor de seus escritos criando nesta um processo de apresentação do que houve no Brasil, durante o período em que esteve à frente das Ligas, até o momento em que é preso como subversivo durante a Ditadura Militar. Portanto, todo o processo de pesquisa tem o objetivo principal de classificar as ações de Francisco no papel de um Formador e Educador, no espaço em que atuava.

Texto completo

Seminário Memória Camponesa – 2006 (1ª Mesa)

1ª. Mesa: As ligas camponesas em Sapé e na Paraíba

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Seminário Memória Camponesa
As Ligas Camponesas na Paraíba
Dias: 28 e 29 de abril de 2006
Local: Auditório João Eudes, da Assembléia Legislativa da Paraíba
Endereço: Praça João Pessoa, Centro, João Pessoa – PB.

Poema: Ao meu nobre pai Pedro Fazendeiro e outros tantos Companheiros

O que dizer de você que quase não conheci!
Que tão pouco vi e quase não convivi,
É só falar da saudade! Saudade do que não tive,
Do homem bom com
panheiro, do Pedro pai e amigo,
Do refúgio no abrigo do abraço protetor,
Que a ditadura roubou.

São cinco os filhos de Pedro, sendo eu a derradeira,
Quase nada me sobrou, pois as alegrias de filha,
A ditadura tão desumana tão crua,
Brutalmente me fraudou,
Roubou-me a paternidade e em órfã me tornou.

O meu coração, ainda sofre e chora essa dor,
A dor da saudade do direito suprimido,
De ao seu lado ter crescido, seus abraços e carinho recebido,
Vê-lo sorrir de alegria, enquanto eu acertava,
E, receber correção quando na vida eu errava,
Tudo me foi tirado, não posso mais me calar,
Explode coração! Chora coração!
Fala da tua dor com emoção e razão.

Isso, sem falar da dor dos que já sabiam o que é a dor,
Pois, a mim coube a dor da inocência,
Da espera prolongada, da sua utópica chegada,
Que, na minha ingenuidade era por mim aguardada,
Na minha fé infantil que assim acreditava,
Que, tal como o Cristo um dia ressuscitou,
E em refulgente gloria para o pai retornou,
Eu cria e confiante orava, pela volta do meu pai,
Mas ele jamais chegou.

O que dizer da dor, de quem já sabia o que é dor!
De quem antes já sofria!
O que dizer então da dor de Maria?
Minha mãe que de tanto que chorou,
Como uma rosa murchou, ressecou, expirou,
Por conhecer o sentir do coração,
Sabia que seu amado, jamais ao lar tornaria,
Que ela agora seria só,
Só solidão, tristeza, e agonia.

Como criar seus cinco filhos Maria?
Na angustia de saber que Pedro,
Pai, provedor, fora tiranizado pela lei da ditadura,
A lei que ditou tão dura a vida, martírio e morte,
Do Pedro que honra e paz proclamava,
Sim! Por esta causa lutava, vida, paz e honradez,
Aos amigos, companheiros camponeses,
Torturados, humilhados, indefesos,
Por algozes e covardes capatazes.

E, o que dizer da dor das minhas irmãs e irmãos?
Nadieje, Josineide, Marinarde e o Walter,
Por já entenderem tudo ou quem sabe quase tudo,
Em pouco tempo sabiam, que pai nunca mais teriam.

Ai, Quão grande foi essa dor,
Que tem por nome orfandade!
Que aflige os corações sem escolha de idade.

Como doeu essa dor crucial e cabalista,
Ao saberem, que Pedro não mais veriam,
O pai amoroso, corajoso e idealista,
Sim! Meu pai era um sonhador,
E, pra esses quatro filhos profissão assim sonhou,
Essa será doutora e a outra professora,
Esse menino engenheiro e aquele advogado,
(só para mim tão pequena a ditadura tão dura
Roubou-lhe o tempo do sonho e o vazio ficou).

Ai! Quão grande foi essa dor,
Que tem por nome orfandade!
Que magoa corações, independente da idade.

Respondam-me, por favor,
O que fazer de um amor
Que não tem o ser amado,
Que fora dos meus pequenos braços tirado,
Deixando-me apenas dor e saudades,
Fome, medo, pranto e fragilidade.

Cadê o meu pai amado?
Respondam-me, por favor, tiranas autoridades,
Ditadores cruéis de vidas ensangüentadas,
Respondam-me, por favor, o que faço com essa dor?

E o que dizer da dor de outros tantos companheiros?
Guardada nos corações de quem tanto amor perdeu.
Tantos Pedros, Joãos, Josés, Assis e os Agassiz
As Marias, Margaridas, as Rosas, as Betes e Elizabetes
Os Lemos e também os que não lemos,
Que tiveram seus amores como ramos arrancados,
Iguais pétalas de flores extraídas, esmagadas
Pelas mãos ensangüentadas dessa dita cuja dura,
Freando-lhes o pulsar dos vibrantes corações!

O que dizer para quem tanto chorou,
Gritou, sofreu e venceu,
Sim! Venceu, Pedro e outros tantos companheiros,
Pois o sangue irrompido no mundo e nesse Brasil querido,
Hoje renasce e aflora com ardor e esperança,
Por sabermos que a cada ramo arrancado,
A cada pétala extraída e a cada flor esmagada,
O sonho é mais sonhado, desejado e por fim realizado,
Pois, pulsam fortes os corações dos Pedros, e dos Joãos,
Das Marias, Margaridas, Rosas e Elizabetes
Dos Lemos e também dos que não lemos,
Que a tanto sobreviveram.

Enfim, ao meu saudoso e honrado pai,
Pedro Inácio de Araújo,
Nosso nobre Pedro Fazendeiro,
Nosso sim, pois nunca foste só meu,
Pois como exemplo de honra, heroísmo e altruísmo,
Destes a tua vida por esse Brasil querido.

E, que esse bravo povo brasileiro,
Honre ao meu nobre pai Pedro Fazendeiro,
E, outros tantos companheiros
Que de tanto padeceram.

Em nome da minha mãe (in memória) minhas irmãs e irmãos,
Deixo a você meu pai, meu amor, minha saudade,
Minha dor que tanto doeu e dói,
Mas em especial deixo a você minha grande admiração,
Pois, me orgulho de olhar para o amanhã e ver,
Que aquela luta, a sua luta!
Que parecia tão amarga e inglória,
Hoje é escrita na história como a luta de um grande vencedor!

Obrigada, Pedro Fazendeiro e outros tantos companheiros.

Com amor,
Náugia Maria de Araújo (Náugia Fazendeiro)
 é filha do camponês Pedro Inácio de Araújo, conhecido como Pedro Fazendeiro.

O Veneno está na Mesa II

Após impactar o Brasil mostrando as perversas consequências do uso de agrotóxicos em O Veneno está na Mesa, o diretor Sílvio Tendler apresenta no segundo filme uma nova perspectiva. O Veneno Está Na Mesa 2 atualiza e avança na abordagem do modelo agrícola nacional atual e de suas consequências para a saúde pública. O filme apresenta experiências agroecológicas empreendidas em todo o Brasil, mostrando a existência de alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis, que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores.

Com este documentário, vem a certeza de que o país precisar tomar um posicionamento diante do dilema que se apresenta: Em qual mundo queremos viver? O mundo envenenado do agronegócio ou da liberdade e da diversidade agroecológica?

O Veneno está na Mesa

O documentário de Silvio Tendler pode insinuar um filme de terror, mas O veneno está na mesa, película do experiente documentarista brasileiro, assusta mesmo pela revelação, em vídeo, de uma realidade cotidiana: 28% dos alimentos oferecidos à população brasileira são insatisfatórios para consumo. Baseado em dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), divulgado em 2012, o filme mostra que desde 2008, quando ultrapassou os Estados Unidos, o Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos no mundo.
Elaborado por pesquisadores de diversas universidades federais brasileiras, o extenso relatório da Abrasco reúne dados oficiais e uma série de estudos que denunciam o descontrole do uso de agrotóxicos no Brasil e comprovam os graves e diversificados danos à saúde provocados pelo uso de biocidas. O dossiê foi divulgado em três momentos no ano passado, sendo que os últimos dados foram tornados públicos em novembro. O nível médio de contaminação dos alimentos colhidos nos 26 estados do país é grave: pimentão (91,8%), morango (63,4%), pepino (57,4%), alface (54,2%) e cenoura (49,6%), apenas para citar alguns exemplos.

Fonte: Revista e Educação

Poema: Os homens da Terra

Este poema foi lido pela primeira vez em público numa concentração de camponeses paraibanos realizada no Parque Solon de Lucena, em João Pessoa, em homenagem ao primeiro aniversário da morte de João Pedro Teixeira, no dia 1º de maio de 1963. A leitura foi feita pelo estudante Roberto Ávila Vieira, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes, que veio a João Pessoa especialmente desincumbir-se dessa missão,

Os homens da Terra
Vinícius de Morais

Em homenagem aos trabalhadores da terra do Brasil, que enfim despertam e cuja luta ora se inicia.

Senhores Barões da terra
Preparai vossa mortalha
Porque desfrutais da terra
E a terra é de quem trabalha
Bem como os frutos que encerra
Senhores Barões da terra
Preparai vossa mortalha.
Chegado é o tempo da terra
Não há santo que vos valha
Não a foice contra a espada
Não o fogo contra a pedra.
Não o fuzil contra a enxada
– União contra granada
– Reforma contra metralha!

Senhores Donos da Terra
Juntai vossa rica tralha
Vosso cristal, vossa prata
Luzindo em vossa toalha
Juntai vossos ricos trapos
Senhores Donos da terra
Que os nossos pobres farrapos
Nossa juta e nossa palha
Vêm vindo pelo caminho
Para manchar vosso linho
Com o barro da nossa guerra:
E a nossa guerra não falha!

Nossa guerra forja e funde
O operário e o camponês
Foi ele quem fez o forno
Onde assa o pão que comeis
Com seu martelo e seu forno
Sua lima e sua torquês.
Foi ele quem fez o forno
Onde assa o pão que comeis

Nosso pão de cada dia
Feito em vossa padaria
Com trigo que não colheis.
Nosso pão que forja e funde
O camponês e o operário
No forno onde coze o trigo
Para o pão que nos vendeis
Nas vendas do latifúndio
Senhor latifundiário!

Senhor Grileiro de terra
É chegada a vossa vez
A voz que ouvis e que berra
É o brado do camponês
Clamando do seu calvário
Contra a vossa mesquinhez
O café vos deu o ouro
Com que encheis vosso tesouro
A cana vos deu a parta
Que reluz em vosso armário
O cacau vos deu o cobre
Que atirais no chão do pobre
O algodão vos deu o chumbo
Com que matais o operário:
É chegada a voz vez
Senhor latifundiário!

Em toda parte, nos campos
Junta-se à nossa outra voz
Escutai, Senhor dos campos
Nós já não somos mais sós.
Queremos bonança e paz
Para cuidar da lavoura
Colher o milho que doura

Queremos que a terra possa
Ser tão nossa quanto vossa
Porque a terra não tem dono
Senhores Donos de Terra.
Queremos plantar no outono
Para ter na primavera
Amor em vez de abandono
Fartura em vez de miséria

Queremos paz, não a guerra
Senhores Donos de Terra…
Mas se ouvidos não prestais
Às grandes vozes gerais
Que ecoam de serra em serra
Não há santo que vos valha:
Não a foice contra a espada
Não o fogo contra a pedra
Não o fuzil contra a enxada:
– Granada contra granada
– Metralha contra metralha!

E a nosso guerra é sagrada
A nossa guerra não falha!