João Pedro Teixeira, lhe tiraram a vida, mas a luta continua. Conta com a gente!

Há exatos 58 anos, um dos grandes líderes camponeses do Estado da Paraíba foi covardemente assassinado a mando dos grandes latifundiários paraibanos, JOÃO PEDRO TEIXEIRA. Negro, pai, esposo, pobre e camponês, João Pedro pregava uma vida melhor para as famílias camponesas oprimidas pelos latifundiários, lutava por justiça social, Reforma Agrária, Educação, direitos dos/as trabalhadores/as rurais e por isso também foi assassinado.

João Pedro Teixeira, nasceu em 04 de março de 1918, na cidade de Pilõezinhos, na época distrito de Guarabira/PB. Filho de arrendatário de nome igual João Pedro Teixeira (pai) e Maria Francisca da Conceição (mãe), João Pedro teve uma irmã de nome Severina, que veio a padecer de tuberculose, na cidade de Sapé/PB, com um pouco mais de 20 anos de idade. João Pedro seguiu os ensinamentos e também as revoltas do pai, que se solidarizou com a causa campesina e não aceitou as opressões ao povo camponês, se envolvendo em diversos conflitos pela causa. Um desses conflitos resultou em perseguição por parte dos latifundiários, obrigando-o a abandonar a família e fugir para não ser morto. Com isso, João Pedro, a mãe e a irmã tiveram que mudar de lugar para fugirem das perseguições. Em seguida, foi morar com os avós e sua mãe e irmã foram morar em Guarabira. Com a morte dos avós, João Pedro foi morar com um tio em Massangana, na cidade de Cruz do Espirito Santo/PB, onde iniciou seus posicionamentos contra a exploração do povo Camponês.

Foi a partir Massangana que João Pedro vivenciou e aprofundou sua luta camponesa. Assim que atingiu maior idade, foi trabalhar na pedreira em Café do Vento, na época município de Sapé/PB e lá bem próximo conheceu a jovem Elizabeth Altino, consanguínea do latifúndio paraibano. Elizabeth trabalhava no barracão do pai, assim, foi no balcão e na venda de produtos que João Pedro e Elizabeth se conheceram, iniciando um dos mais belos romances camponeses de nossa contemporaneidade. Mesmo com o pai de Elizabeth não aceitando a união dos dois, pelo motivo de João Pedro ser negro e pobre, eles continuaram se relacionado e em seguida casaram-se em 26 julho de 1942, em Cruz do Espírito Santo/PB. Foram morar em Massangana e lá viveram de 1942 a 1944. João Pedro, sensível com o modo de vida das famílias camponesas e indignado como eram maltratados, contestou como seu tio, gerente de uma fazenda, tinha expulsado uma família de camponeses e decidiu buscar outro lugar para viver. Já com uma filha, deixou Elizabeth na casa de sua mãe, na cidade de Sapé, e foi buscar emprego em Recife. No ano de 1945 foi morar em Jaboatão/PE e trabalhar em pedreira. Se tornou seguidor do protestantismo e atuante da caminhada libertária de Jesus Cristo.

Na pedreira, se destacou como liderança, com o aumento das injustiças para a classe trabalhadora. Naturalmente se tornou líder dos operários e em sua casa iniciou as reuniões com os trabalhadores da pedreira. A partir dessas reuniões, criou-se o Sindicato dos Operários, o qual João Pedro foi eleito presidente, seguindo a luta por direitos da classe trabalhadora. Assim, não tardou as perseguições, João Pedro já não conseguia emprego devido ao seu envolvimento com as causas dos trabalhadores, consequentemente, as dificuldades bateram à porta de sua família. Em 1954, já com 6 filhas/os, João Pedro e Elizabeth Teixeira receberam a propostas de ir morar em Antas do Sono, zona rural de Sapé/PB.

Na época, João Pedro já era conhecedor da experiência da Liga no Engenho Galileia e, com o avanço do latifúndio e suas práticas desumanas, não demorou para novamente para João Pedro apoiar a causa das famílias camponesas. Suas ideias começaram a se espalhar pelos campos da várzea paraibana e também passou a ser procurado para orientar como se comportar diante das injustiças. Com isso, em 1955, em frente à casa de João Pedro e Elizabeth, em Antas do Sono, no município de Sapé, aconteceu o primeiro encontro dos camponeses de Sapé, já naquele momento com a presença de Nego Fuba (João Alfredo Dias) e Pedro fazendeiro (Pedro Inácio de Araújo).

A reação dos latifundiários foi imediata. Após saberem do acontecido, prenderam e espancaram João Pedro no outro dia. Surgiram novas estratégias de mobilização, encontros relâmpagos nas feiras, fazendas e outros lugares em Sapé. Diante do aumento das pessoas que aderiram as ideias por serem vítimas dos maus-tratos dos proprietários de terra, em 1958, foi criada a Associação dos lavradores Agrícolas de Sapé, mais conhecida como “Ligas Camponesas”, ficando João Pedro como vice-Presidente.

Com sua fama se espalhando por ter sido considerado como um homem articulador, corajoso e que representava as 14 ligas camponesas da federação, João Pedro tornou-se um dos maiores inimigos dos latifúndios Paraibanos. Recebendo ameaça frequentemente de morte por todo seu histórico, João Pedro não desanimou e continuou a fazer o que acreditava.

No dia 02 de abril de 1962, João Pedro Teixeira foi até João Pessoa se reunir com os advogados e aproveitou para comprar livros para seus filhos. Ao voltar para casa, quando desceu do ônibus, na BR-230 que liga Sapé a João Pessoa, veio caminhando e, já próximo a sua casa, foi covardemente assassinado com três tiros nas costas numa emboscada. Este crime aconteceu a mando do Grupo Várzea, como era conhecido e temido na época.

Elizabeth Teixeira só ficou sabendo do ocorrido na manhã seguinte e, ao se deparar com o corpo de seu companheiro, falou a seguinte frase: “João Pedro, por mais de uma vez, me perguntou se eu daria continuidade à sua luta e eu nunca te dei minha resposta. Hoje eu te digo, com consciência ou sem consciência de luta, EU MARCHAREI NA SUA LUTA, JOÃO PEDRO, PROQUE DER E VIER.”

É inspiradas/os nessa história que o Memorial da Ligas e Lutas Camponesas reafirma seu compromisso de manter viva a História e a Memória desse Líder camponês e Herói Nacional que representou e representa a classe Camponesa.

Att:

Memorial das Ligas e Lutas Camponesas

Referências:

CONSULTA POPULAR, JOÃO PEDRO: vivo na memória e nas Lutas dos trabalhadores. João Pessoa: Ideia, 2002.

HAM, Antônia, et al (orgs.). MEMÓRIAS DO POVO: João Pedro Teixeira e as ligas camponesas. João Pessoa: Ideia, 2006.

Convite: memória do grande líder e herói JOÃO PEDRO TEIXEIRA (02/04 – às 14h)

Companheiras, companheiros

O Memorial das Ligas e Lutas Camponesas continua insistindo no seu propósito de ser um elo, um mediador entre os trabalhadores do campo e da cidade, mantendo-se, assim, fiel aos sonhos dos seus heróis e mártires.

Consciente do grave momento que atravessamos e na certeza de que somente a nossa união e articulação nos conduzirá a derrota do inimigo comum, convida a todas e todos para, juntos, no dia 02 de abril próximo, às 14:00, no Sítio Barra de Antas em Sapé, fazermos
, na data do seu assassinato pelos latifundiários pertencentes à mesma direita que hoje quer dar o golpe contra a democracia que nos custou tantos sacrifícios.

Teremos a apresentação de momentos culturais, destacando-se a cantora VERA LIMA à frente do Terreiro do Povo, cantorias, falas, a partir de nossa perspectiva de trabalhadores e, sempre com o objetivo de consolidar nossa união Campo/Cidade.

Contamos com a presença de todos

João Fragoso
Diretor de Comunicação

O ontem e o hoje

É um privilégio, para mim, ter me interessado pela história do Brasil desde os anos de 1945, quando eu tinha apenas 12 anos. Era no governo de Vargas, precisamente no Estado Novo, 29/10/1945. Passei a me perguntar por que os generais (seus ministros), que se faziam tão seus amigos, o depuseram? É bem verdade que Getúlio Vargas confiara a Felinto Muller a Chefia de Polícia, com poderes de vida e morte, aliás, um dos mais cruéis torturadores de nossa história. Também é verdade que entregou Olga Benário Prestes, esposa de Carlos Prestes, para ser cremada num campo de concentração nazista.

Mas, seriam esses os motivos da deposição de Getúlio Vargas?

As elites e os militares nunca foram humanistas.

O fato é que Getúlio tinha um outro lado, o qual as elites de ontem e de hoje jamais aceitaram:

– Criou as Leis Trabalhistas,

– Carteira de Trabalho Obrigatória,

– Salário Mínimo,

– 8 Horas de trabalho diário,

– Férias remuneradas,

– Repouso semanal remunerado

– Regulamentação do trabalho da mulher e do menor

– Justiça do Trabalho

– Previdência Social

Getúlio foi então chamado de “Pai dos Trabalhadores”, embora essas medidas constituíssem demandas que a Classe Trabalhadora já viesse lutando para conseguir.

A burguesia jamais iria tolerar um governo que tomasse tais atitudes, então se articulou com os militares e depuseram Getúlio.

E sabe o que aconteceu? O general eleito presidente – Eurico Gaspar Dutra – iniciou violenta perseguição ao Movimento Sindical e governou para as elites e para o imperialismo norte americano.

Mas, Getúlio voltou em 1951, agora eleito democraticamente. Recomeçou a sua política em favor dos trabalhadores, decretando um aumento de CEM POR CENTO do salário mínimo.

E o que sucedeu? As mesmas elites não toleraram, fizeram de Carlos Lacerda (Jair Bolsonaro…?) seu porta voz, articularam-se com os militares (República do Galeão) e Getúlio Vargas, desesperado, saiu da cena política em 24/8/54 com um tiro no coração.

 

II

 

Passaram-se alguns governos: Juscelino, Jânio, João Goulart – o Jango.

Jango era de tendência trabalhista também popular ou populista. Através do seu Ministro do Planejamento, o paraibano Celso Furtado, arquitetou as reformas, chamadas de Base, que traziam grande esperança de bem-estar ao povo brasileiro, especialmente a Reforma Agrária que iria beneficiar de maneira particular o homem do campo. Esta Reforma estabelecia que a desapropriação da terra seria indenizada com títulos da dívida pública, e o mais interessante, pelo seu valor histórico, ou seja, o valor registrado em cartório, ideia essa rechaçada pelo latifúndio.

Além disso, Jango, através de decreto, acedeu a demanda da Classe Trabalhadora, permitindo que formasse uma central dos trabalhadores, chamada CGT – Comando Geral dos Trabalhadores. Era função desse órgão articular os sindicatos, unificar suas reivindicações, e com essa prática a Classe Trabalhadora cresceu em sua organização, e causou profundo medo à burguesia.

Então as elites formaram uma aliança empresarial/civil/midiática/religiosa/militar e agiram no sentido de derrubar o governo democraticamente eleito. Como hoje, fizeram passeatas. Para conquistar as massas religiosas convidaram o Padre irlandês – Patrick Peyton – financiado por inúmeras empresas multinacionais para combater o comunismo. O Pe. Peyton trouxe ao Brasil o “terço em família” e realizou a famosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade.

Derrubaram João Goulart.

Sabe o que veio depois?

Os militares no poder, a primeira providência foi desmantelar o CGT, os sindicatos, as organizações trabalhistas, conforme está no insuspeito livro “Brasil Nunca Mais”. Da mesma maneira que no passado o governo Dutra perseguiu a Classe Trabalhadora, em 1964 a ditadura repetiu, agora torturando, matando.

Em primeira mão extinguiram a estabilidade no emprego aos 10 anos de trabalho na mesma empresa, conquista que custou tanto sacrifício aos trabalhadores

Eu fui destituído do Sindicato dos Bancários, demitido do meu emprego no Banco do Nordeste e preso por 22 dias.

As greves eram reprimidas a bala, a Classe Trabalhadora estava impedida de se reorganizar.

 

III

 

Depois de 21 anos de uma cruel ditadura em que mais de 500 pessoas, em sua grande maioria trabalhadores, foram torturadas até a morte, 100 mil foram demitidas, a resistência começou a manifestar-se. Sabe quem estava na frente? Luiz Inácio Lula da Silva, enfrentou patas de cavalo, prisões, cassetetes, mas não desistiu e a Classe Trabalhadora, de novo, se reorganizou.

Passaram-se os governos militares e alguns civis, no último dos quais, o salário mínimo valia 80 dólares – menos de 320,00 reais hoje.

Em 2002, o Povo Brasileiro elegeu um trabalhador do PT – Lula.

Bem, o resto da história é bem atual, todos sabem, porém convém reafirmar porque a perseguição ao governo do PT:

– Com a chegada do PT ao poder, “começou a ser implantado no País um modelo de desenvolvimento, pautado na redistribuição da renda, geração de emprego e crescimento econômico”.

– O PT implementou “políticas públicas que garantiram ao Brasil sair do Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Com o Brasil Sem Miséria e o Bolsa Família, 36 milhões de brasileiros saíram da situação de extrema pobreza”.

– “A política econômica mantida pelo PT garantiu a plena expansão do mercado de trabalho no País. O aumento no salário mínimo e a geração recorde de empregos permitiram a 42 milhões de brasileiros ascenderem a nova classe trabalhadora”.

– “O salário mínimo também foi responsável pela melhoria da vida da população, com alta de 262% nos últimos 12 anos, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)”.

– “Educação – Na educação, os governos do PT iniciaram uma verdadeira revolução”.

– “Com Lula e Dilma foram criadas 18 universidades públicas e o orçamento do Ministério da Educação passou de 18 bilhões, em 2002, para 115,7 bilhões, em 2014. Em relação ao PIB, passou de 4,5% em 2004 para 6,4% em 2012”.

– “Ao mesmo tempo, mais de um milhão de alunos tiveram acesso a bolsas integrais e parciais de estudos do Programa Universidade para Todos (Prouni) e 2,8 milhões de alunos se matricularam em universidades por meio do Sistema de Seleção Unificado (Sisu), em 2015”.

– “O número de escolas técnicas passou de 11, durante o governo FHC, para 420 unidades com os governos do PT”.

– “E mais de 12 milhões de jovens estão matriculados no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) ”.

– Nesse governo as/os empregadas/os domésticas/os conquistaram os mesmos direitos de outros trabalhadores.

Eis os motivos porque querem depor Dilma e cassar Lula. As elites, e quem pensa como elas, jamais vão permitir que os trabalhadores (ou os explorados) aproximem-se do seu “status”. Doméstica andar de avião, possuir carro, ir a restaurantes, é inadmissível para a burguesia. O lugar dela foi e continua sendo a “senzala”.

Por que essa aversão aos excluídos – os moradores de rua, os desempregados, as mulheres negras, os pobres, os homo-afetivos, as lésbicas?

Será porque não consomem, isto é, não fazem parte do mercado?

E quem tem se posto em defesa desse contingente de explorados, às vezes com o sacrifício da própria vida? São as esquerdas, entre elas o PT. São elas que têm defendido o patrimônio nacional, os direitos dos trabalhadores e o direito de ser gente, a dignidade de ser humano.

Concluindo: Duas forças se chocam, se contradizem na história da humanidade: uma o capital, outra o trabalho, ou, exploradores e explorados, opressores e oprimidos, isso é o que constitui a “luta de classes”. A história da humanidade é a sucessão dessa luta até o dia em que não mais existir uma classe que domina e outra que é dominada.

 

14/03/16

João Fragoso

 

 

Edital de Convocação

Assembleia Geral Extraordinária a realizar-se em sua sede, no dia 18/02/2016, às 9:00 horas.

MEMORIAL DAS LIGAS CAMPONESAS
COMUNIDADE BARRA DE ANTAS
SAPÉ – PB

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

Nos termos do Estatuto, convoco os senhores associados do MEMORIAL DAS LIGAS CAMPONESAS para a reunião da Assembleia Geral Extraordinária a realizar-se em sua sede, na Comunidade Barras de Antas, Município de Sapé-PB, no dia 18/02/2016, às 9:00 horas, em primeira convocação, havendo quórum, ou às 11:00, em segunda convocação, com qualquer número de pessoas presentes, para o fim de deliberarem sobre a seguinte pauta: Eleição da Diretoria e Conselho Fiscal.
Sapé-PB 08 de fevereiro de 2016

LUIZ DAMÁSIO DE LIMA
Presidente do Memorial das Ligas Camponesas

Livro: Por um pedaço de Chão

A Professora da UFPB – Emília Moreira – fez um trabalho exaustivo para nos informar sobre as lutas do campo no Estado da Paraíba. Publicou em dois volumes “Por um pedaço de chão”, toda a peleja do homem do campo na busca de um pedaço de terra que lhe dê, para si e sua família,  condições de uma vida digna. Todos aqueles que se interessarem por conhecer a história da conquista da terra por meio dos camponeses na Paraíba, não podem prescidir dessa excelente obra da Profra. Emília.

Temos o prazer de postar no site do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, permitindo o acesso também àqueles que precisam fundamentar seus trabalhos de conclusão de curso.

Por um Pedaço de Chão – Volume I
Por um Pedaço de Chão – Volume II

Elizabeth Teixeira: 90 anos de luta

Por Renata Ferreira

Ela abriu mão do conforto para viver o amor ao lado de um trabalhador pobre e analfabeto. Com ele, formou família e ajudou a construir a história do movimento sindical agrário no Brasil. A paraibana Elizabeth Teixeira é a face feminina das lutas camponesas da metade do século passado. Junto ao marido, João Pedro Teixeira, fundou, no município de Sapé (PB), o maior sindicato de trabalhadores agrários do país até então. E assumiu a liderança do movimento depois do assassinato dele, em 1962.

A trajetória de Elizabeth será lembrada na próxima sexta-feira (13/2), quando ela completa 90 anos de vida. A celebração vai ocorrer no Memorial das Ligas Camponesas, fundado no antigo sítio onde a camponesa viveu com João Pedro e os 11 filhos, no distrito de Barra das Antas, em Sapé (município a 65 quilômetros da capital do Estado, João Pessoa).

O imóvel de sete hectares foi tombado em 2012 pelo Governo do Estado da Paraíba e transformado em um espaço de resgate da memória e homenagem aos trabalhadores que dedicaram a vida a lutar por dignidade no campo e reforma agrária.

Universidades, sindicatos e movimentos sociais estão engajados no evento, do qual devem participar filhos e netos de Elizabeth e João Pedro. Pela manhã, as atividades serão fechadas aos parentes e organizadores. “Será uma reunião de família”, explica o professor da UFPB Antônio Alberto Pereira, um dos coordenadores do Memorial das Ligas Camponesas.

Às 14h, terá início o evento aberto a toda a comunidade. O coral da Universidade Federal da Paraíba vai se apresentar cantando o Hino do Camponês, acompanhado pela Orquestra Santa Cecília, de Sapé, e sob a regência do próprio compositor da obra, o maestro Geraldo Menucci, antigo militante do Movimento Cultural Popular. A letra da música é de Francisco Julião, advogado, político e escritor que atuou com as ligas camponesas de Pernambuco.

A parte cultural do evento terá também apresentações de coco de roda e músicas populares. A organização espera reunir, além de autoridades da região e representantes dos movimentos populares e sindicais, crianças e jovens das escolas públicas de Mari, Sapé, Sobrado e Cruz do Espírito Santo.
No sábado (14/2), haverá o lançamento do documentário “A família de Elizabeth Teixeira”, do cineasta Eduardo Coutinho, morto em 2014 e diretor de “Cabra Marcado para Morrer”, obra que conta a história de João Pedro, Elizabeth e das ligas camponesas do Nordeste. O lançamento do documentário será no Centro de Formação João Pedro Teixeira, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, no município de Lagoa Seca (PB).

Prisão e fuga

Depois da morte de João Pedro, em 2 de abril de 1962, Elizabeth assume a liderança do movimento, ao lado de nomes como Pedro Fazendeiro e Nego Fuba. Foi presa por várias vezes e, numa delas, retorna à casa para se deparar com a tragédia do suicídio da filha mais velha, Marluce, que não suportou conviver com a possibilidade de a mãe ter o mesmo destino do pai.

Em 1964, com a instalação do regime militar, Elizabeth é presa pelo Exército e passa oito meses na cadeia. Na volta, precisa fugir para não ser morta. Esconde-se na cidade de São Rafael, no interior do Rio Grande do Norte, com apenas um dos 11 filhos – Carlos, que é rejeitado pelo avô por se parecer muito com o pai. Passa 17 anos afastada da família, vivendo com a identidade de Marta Maria da Costa.

Isso até 1981, quando o cineasta Eduardo Coutinho resolve retomar as gravações de “Cabra Marcado para Morrer”, interrompidas pela truculência da ditadura. Por intermédio de um dos filhos de Elizabeth, Coutinho reencontra a líder camponesa e conclui o trabalho. A viúva de João Pedro vem, então, morar em João Pessoa, no bairro de Cruz das Armas, em uma casa que lhe é presenteada pelo próprio Eduardo Coutinho.

Heranças da luta

As ligas camponesas e a história de João Pedro e Elizabeth são lembradas não apenas como registro histórico. A luta chegou aos dias atuais, trouxe heranças e desafios futuros. Embora a sonhada reforma agrária ainda não tenha se concretizado, o homem do campo está consciente dos próprios direitos e busca cada vez mais organizar-se em cooperativas e associações para potencializar ações e iniciativas.
Para o presidente do Memorial das Ligas Camponesas, o agricultor Luiz Damázio de Lima (o Luizinho), os líderes João Pedro e Elizabeth Teixeira deram o primeiro passo, mas a luta camponesa continua se atualizando. E várias são as heranças desse movimento. Uma delas, segundo Luizinho, é o crescimento da organização dos pequenos produtores.

Ele cita a experiência da Ecovárzea (Associação dos Agricultores e Agricultoras da Várzea Paraibana), uma entidade que reúne cerca de 300 assentados. “Esse tipo de iniciativa nasceu com as ligas”, afirma. Juntos, os pequenos produtores são mais fortes do que se estivessem trabalhando de forma independentes.

No caso da Ecovárzea, eles optaram por um modelo de cultivo limpo e saudável: a agroecologia. Longe dos agrotóxicos e aditivos químicos, os trabalhadores ganham em qualidade de vida e levam verduras, hortaliças e frutas de melhor qualidade ao consumidor. A comercialização é feita sempre às sextas-feiras, na UFPB, e a estimativa de venda é de R$ 7 mil a R$ 8 mil por semana

Segundo Luizinho, a Paraíba já conta com 45 feiras de pequenos produtores com a da Ecovárzea. “Não são todas agroecológicas, mas isso já demonstra o processo organizativo dos agricultores”. Nessas feiras, são comercializadas entre 90 e 100 toneladas de produtos semanalmente. “Isso dá uma rentabilidade imensa”, afirma.

Outra herança das ligas, segundo o agricultor, está no maior acesso à educação. “Hoje temos filho de agricultor fazendo Pedagogia, Enfermagem, Ciências Agrárias, Agroecologia, Agronomia, por exemplo. Nossos filhos estão lutando para conquistar um espaço na universidade”, garante. “Há uma quantidade muito grande de jovens do campo que estão conseguindo sua formação e estão atuando em cooperativas e associações”, reafirma a professora da UFPB, Fátima Rodrigues, que é colaboradora do Memorial das Ligas Camponesas.

Ela e Luizinho citam ainda como ganhos decorrentes das ligas camponesas o maior acesso à saúde e o crescimento da participação e do protagonismo das mulheres nas ações das comunidades rurais.
“Ainda precisamos melhorar bastantes, por exemplo, ampliando a assistência médica, as políticas públicas para os jovens, a infraestrutura, as escolas”, afirma Luizinho. E para se alcançar essas melhorias, segundo ele, é necessário que o homem do campo continue ciente da importância do processo organizativo.

Sobre qual conquista seria a mais difícil de alcança, Luizinho se mostra convicto: “difícil é conquistar a consciência da sociedade em apoio a essa luta”, declara. Para ele, o aniversário de Elizabeth Teixeira é a consagração de 90 anos de luta. “Ela não começou a lutar depois de casada com João Pedro, mas quando nasceu. Ela enfrentou o próprio pai, que era latifundiário. Essa celebração é uma honra para nós. Se João Pedro é o cabra marcado para morrer, Elizabeth é a mulher marcada para viver”, declara.

♦ Renata Ferreira é jornalista

Fonte:

http://carosamigos.com.br/index.php/component/content/article/189-artigos-e-debates/4819-elizabeth-teixeira-90-anos-de-luta

 

Convite

Companheiras e Companheiros de Assentamentos, Acampamentos, Movimentos Populares, Associações e Sindicatos.

A Reforma Agrária foi para os protagonistas das Ligas Camponesas, inclusive as de Sapé e da Paraíba, a grande bandeira de lutas memoráveis.

ELIZABETH TEIXEIRA, ícone vivo das Ligas e das lutas camponesas, costuma lembrar que, mais de cinquenta anos após o martírio de João Pedro Teixeira, Nego Fuba, Pedro Fazendeiro e outros, a Reforma Agrária ainda não se fez, neste País.

Eis por que a luta tem que seguir! E eis por que o MEMORIAL DAS LIGAS E DAS LUTAS CAMPONESAS DA PARAÍBA vem se somando aos movimentos populares e sindicais e outras forças organizadas de nossa sociedade, para seguir lutando pela Reforma Agrária! E o temos feito, não apenas cultivando a memória das Ligas, mas também buscando contribuir com as lutas de hoje, seja no processo organizativo dos camponeses e camponesas, seja no processo de formação e mobilização. Nossas atividades vêm se dando nessa direção.

Neste momento em torno do dia 13 de fevereiro em que Elizabeth Teixeira se prepara para completar, justo neste dia, seus bem vividos 90 anos de vida e de lutas, o MEMORIAL DAS LIGAS E DAS LUTAS CAMPONESAS DA PARAÍBA está promovendo, junto com várias forças organizadas da Paraíba, uma relevante comemoração especial dos 90 anos desta que, a justo título, tem sido denominada de “Mulher marcada para viver!”.

Para tanto, dirigimo-nos aos Companheiros e Companheiras para solicitar-lhes apoio em duas frentes:

Participar intensamente dos atos programados, nesses dias tendo o DIA 13 DE FEVEREIRO como o ápice dessas comemorações;

Oferecer uma contribuição financeira para ajudar a custear essa organização, que pode ser depositada na Caixa Econômica: Agência: 0922 – Caixa Econômica Federal da Paraíba – Sapé-PB, Operação: 003, Conta Corrente: 00001121-2 – Titular: ONG – Memorial das Ligas Camponesas

Na certeza de que contaremos com sua participação efetiva, desde já lhes agradecemos pela solidariedade concreta com a causa da Reforma Agrária e das lutas camponesas, na Paraíba.

PROGRAMAÇÃO: 13/02, às 14:00, em Barra de Antas – Homenagem a Elizabeth Teixeira

14/02, no Centro de Formação João Pedro Teixeira – MST – Lagoa Seca-PB, às 16:00).

 

Com nossas saudações camponesas,

Luiz Damázio de Lima

Presidente do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas

 

 

Ler O Capital

Com o objetivo de incentivar a leitura, o estudo e o debate da obra maior de Marx, marxismo21 inaugura uma nova seção: “Ler O Capital“. A expectativa é a de que ela fomente a leitura individual e coletiva de O Capital por todo o país; não apenas nas universidades, mas também nos movimentos sociais, em sindicatos, associações de moradores, organizações juvenis, centros de cultura e formação política e demais instâncias de organização e mobilização popular. Isto porque marxismo21 considera que o estudo de O Capital é fundamental para a compreensão da sociedade capitalista contemporânea e para a superação dos impasses e desafios colocados para o movimento dos trabalhadores e as lutas pela transformação social, pois desnuda como nenhuma outra o funcionamento, a dinâmica e as contradições do capitalismo numa perspectiva crítica e de superação histórica desta forma social a partir da ação revolucionária dos trabalhadores.

Em um primeiro momento, apoiando-nos no material didático preparado por uma equipe de educadores da Fundação Rosa Luxemburgo da Alemanha, nos concentraremos no primeiro volume de O Capital. Na medida em que sejam lançados os materiais referentes aos dois outros volumes, eles serão aqui divulgados. Em seguida pretende-se divulgar textos de comentadores, vídeos e materiais que tratam desta obra de Marx.

Buscando ampliar o mais possível o acesso a O Capital solicitamos vossa colaboração no estímulo à leitura e ao estudo e na divulgação da seção entre seus militantes e simpatizantes. O link para acesso é http://marxismo21.org/ler-o-capital/